segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Rio Pomba: “In Memoriam.”






Rio Pomba: “In Memoriam.”
Josimar Salum

As andorinhas voam em bandos velozes
Ziguezagueando debaixo do teto azul
Algumas se separam do bando
E beijam as águas que espelham os céus!

Um dia como outros, sem parar,
ás águas trazem gravetos de longe,
poeiras distantes, mesmo troncos,
Descem no mesmo ritmo cadente
Em toda a vida, em momentos diferentes,
Mesma velocidade, sussurrando ao vento,
sangue da terra, vida de toda gente,
Andorinhas, águas, peixes, seres.

Os anjos vem das poucas florestas
e das muitas cidades
Para se encontrarem no final da tarde
Depois da lida intensa em proteger os homens.
Ninguém os vê, mesmo as crianças.
Discutem as mudanças sutis
Que vão acontecendo com o passar do tempo,
Como os homens cortaram as árvores
Das margens arrancaram as raizes,
Sugaram cascalhos em busca de ouro,
Sacaram em tubos enormes suas areias,
Jogaram nas águas escórias de mineradoras, 
muito veneno;
Execraram seus dejetos, de todo tipo e cores;
E muitos pescadores amadores e profissionais
Exploraram sem escrúpulos os peixes em redes,
Em anzóis, garateias, com milhões de armadilhas, ininterruptamente.

Um dia sem avisar, vieram agrimensores
Com máquinas fotográficas que não colhiam imagens.
Escreveram anotações numéricas,
de distâncias e alturas,
para um evento distante,
Quem ousaram perguntar-lhes
ouviram vagamente suas respostas
Nem eles mesmos sabiam o que estavam fazendo.

Um povo de língua estranha
sobejou papéis, assinou contratos.
Os moradores da região com suas histórias, 
vidas e memórias
Foram sendo arrancados um por um,
Alguns alegres pelos valores indenizados,
Outros sentindo-se injustiçados,
resistiram em vão.
A injustiça mais vil não seria pelo dinheiro,
O universo de homens em cadeiras almofadadas,
Conspirou contra quem não teria nada.
Cortaram árvores, extraíram madeiras,
Deixaram para atrás as frutíferas e campos férteis,
História, memória, lembranças e passado, 
impiedosamente.

Soterraram o meu Rio Pomba
de uma ponta à outra,
Artificiaram duas novas margens,
uma montanha de terra, areia e argila ergueram,
E uma argamassa, de ferros e metais,
concreto frio, estranho, intruso.
E cobriram tudo com uma grama debochada,
Que esconde a barragem fria,
Que paralisou as águas do rio
num lago de morte.
Enterraram ali milhões de pés de terra, 
espaço incalculável,
árvores, animais e pássaros;
Milhares e milhares de sonhos,
E toda uma história de coragem,
de amor e esperança
de um povo que um dia foi valente.

Jaz ali um monumento ao progresso insano,
Jaz ali para cada energia invisível 
transportada em cabos
uma gargalhada de escárnio.
Para cima, os que não tem passado,
Para baixo os que não tem futuro.

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